terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O Legado Havaiano




O surf possui muitas peculiaridades, aspectos culturais que marcaram o imaginário da sociedade ao longo do século XX. Os criadores do esporte e dessa áurea mítica foram, sem dúvida, o povo havaiano.


Arquipélago do Havaí
Quando o capitão inglês James Cook desembarcou pela primeira vez no arquipélago havaiano, as ilhas do pacífico já haviam sido descobertas há tempos por um povo bravo e conhecedores dos mares: os polinésios. O Havaí deve ter sido povoado por volta de 300 DC (não há muita precisão nesta data) e descobertopor exploradores britânicos em 1778. Assim, por cerca de 1500 anos, a sociedade foi organizada em chefiados, isto é, as ilhas possuíam seus chefes, que por suavez se submetiam a decisões de grandes chefes (Aliʻi), formando dinastias que brigavam entre si. Em 1810, as guerras cessaram e as ilhas passaram ser comandadas por um reinado que unia os chefes em torno do Rei Kamehameha, até se tornarem uma nação democrática anexada ao EUA no final do século XIX.


Gravura representa modo de vida nas ilhas havaianas 


O surf no Havaí era integrado à cultura e existem lugares das ilhas com nomes que homenageiam grandes episódios relacionados pessoas que enfrentaram ondas perigosas. Os chefes, reis ou nobres, possuíam pranchas exclusivas para seus status e tinham que demonstrar habilidade no surf para manter respeito entre sua comunidade. Os polinésios antigos não possuíam escrita, mas inúmeras músicas contam histórias de pessoas saudadas como heróispor enfrentarem grandes ondas ou mares sinistros. 



Sessão de ondas no Havaí: mestres dos mares e condições propícias


Os construtores de pranchas de surf também entoavam cantos e rituais para construir as pranchas de surf e respeitavam vários rituais que se iniciavam já na derrubada da árvores escolhida para virar prancha de surf. Por isso, o surf era uma mistura de esporte e arte dos nobres e possuía relação íntima com a religião e até com a política.


Gravura de Ron Croci 
O tenente da frota do capitão Cook descreveu a prática do surf havaiano por volta de 1780 (em livre tradução do inglês):
(...) Porém, a diversão a mais comum é sobre a água, onde há ummar muito propício, com grandes ondas quebrando na costa. Algumas vezes cerca de 20 ou 30 homens saem em direção às ondas em uma peça oval e plana de madeira medindo o tamanho e largura desses homens, que se sentam com as pernas juntas encima e ultilizam os braços para dar direçãoà prancha. Eles esperam até surgirem as ondas maiores, e então todos juntos remam do topo da onda, alcançando uma velocidade surpreendente. A arte está em manter a orientação adequada e mudar a direção conforme a onda quebra. Se a onda quebrar durante a descida pode arrastá-los em direção as pedras. A primeira vista esta é uma diversão muito perigosa que nós não concebiamos ser possível, mas antes de serlevado ás pedras eles abandonam a prancha e nadam em direção as ondas, enquanto a prancha é arrastada por muitos metros de distancia. A maioria conseque alcançar a parte de fora, fugindo a força das ondas, nadando ou remando sua pranha. Com um exercício destes podemos dizer que tais homens são quase anfibios. Uma mulher pode pular do navio e manter-se metade do dia dentro da água até voltar à embarcação. Ao que parece estes são mais do que exercícios, as habilidades praticadas pelos nativos trazem muito prazer e emoção às atividades diárias.



Havaí foi redescoberto como meca do surf no início do século XX

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Das Canoas Polinésias ao Surf (300 A.C. - 1500 D.C.)

Para de entender a essência do surf e os motivos que este esporte se transformou em uma esta cultura ao longo do século XX é imprescindível conhecer os povos polinésios e sua relação com o mar. 

Como uma etnia conseguiu se espalhar por uma área tão imensa de água? Sem ostentar grandes construções navais, ou qualquer instrumento minimamente sofisticado povoaram uma área imensa de ilhas espalhadas pelo Oceano Pacífico.




Origens e expansão

Existem diversos estudos sobre a origem dos polinésios, mas são hipóteses e teorias possíveis, nada que explique por inteiro o mistério daqueles povos. Provavelmente são originários de fluxos migratórios da Malásia, Sião, China, Índia e, talvez, América do Sul, de outras ilhas do Pacífico.
Este povoamento foi incrível, pois não possuíam instrumentos de navegação ou barcos que permitissem o estoque de comida ou água. Muito antes das grandes navegações ultramarinas, dos Vikings, ou da expansão do Império Romano essa ocupação teve início. As Ilhas da Polinésia devem ter sido alcançadas entre os séculos III ou IV, seguindo pelas Filipinas, Indonésia e Bornéu para as ilhas do Pacífico, se expandiram até o século XV.


As canoas polinésias eram adornadas em homenagem aos deuses


Após conquistar uma ilha, ocupavam-na e quando começava a faltar recursos para sustentar a todos habitantes, saiam em grupos para novas migrações. Provavelmente planejavam as viajens por décadas, depois partiam expedições sem volta, rumo a destinos incertos. As expedições em busca de novos paraísos eram formadas por grandes grupos, famílias inteiras que saiam em frágeis canoas. Muitas embarcações devem ter sido tragadas pelo Pacífico, em tempestades e condições ruins. Pena não terem escrita para deixar mais detalhes dessa história.


Migração Polinésia. Aves indicavam caminho para novas ilhas.


As embarcações e o conhecimento da natureza
Ao que sabemos, as embarcações dos polinésios eram canoas cavadas em troncos de árvore (semelhantes as canoas dos indígenas brasileiros) usando como instrumento para construção, o fogo, machados de pedra e conchas. As canoas possuíam cascos duplos ou monocascos com um ou dois flutuadores para dar equilíbrio, como catamarans de muitos tipos. Além dos remos, eram movidas por aparato de velas, carregando, normalmente, até doze pessoas, com relatos de grandes canoas com dezenas de pessoas.

Encontro de civilizações e diferentes modos de navegar


Os instrumento de navegação eram o conhecimentos das aves migratórias, marés,ventos e estrelas. De dia se orientavam pelo sol, anoite pelas estrelas, sabiam que aterra era redonda muito antes da civilização ocidental. Em muitas ilhas faziam mapas complexos, usando com ramos de palha ou galhos entrelaçados, os mapas rústicos apontavam o local de ilhas, estrelas e correntes marítimas. O céu estrelado era uma bússola gigante, muito melhor que o astrolábio que possibilitou as grande navegações! 

Mapas feitos com bambu e conchas indicavam ilhas e correntes marítimas


As histórias desses povos contam que quando os chefes do Taiti visitavam os reis havaianos, as canoas se dirigiam ao norte por 2.000 milhas náuticas (3.656.006 Km), guiando-se pelo céu, até que aparecessem estrelas que indicavam que deveriam virar alguns graus para oeste, para a latitude o Havaí. Em seguida, as aves apareciam, indicando a direção das ilhas.
Além de exímios conhecedores da natureza, tinham muita habilidade com as canoas, sabendo muito bem como conduzi-las da melhor maneira para aproveitar o vento, as ondulações e as marés. Descer ondas para voltar á terra firme era comum, e da destreza de aproveitar a força das ondas inventaram uma brincadeira: o Paipo, uma espécie de body board feito de uma tábua de madeira. A prática foi encontrada em algumas ilhas do pacífico, entre a Polinésia Francesa e o Havaí.
Imagem do final do Século XIX, surfista polinésio e sua prancha de paipo
O Paipo era uma brincadeira que deu origem às muitas formas do surf como conhecemos hoje. No Havaí, a coisa se tornou algo sagrado, mas isso é papo para outro post...

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Polêmicas sobre o Início do Surf (500 D.C.)

Afinal, peruanos, polinésios ou havaianos, quem inventou o surf?
O surf é um esporte que envolve uma cultura muito própria um mercado muito significativo surgido após meados do século XX. Não é por menos que existe uma polêmica sobre o início desta prática.

Estatuetas que datam milhares de anos dão indícios que povos antigos do Peru já surfavam. 
Relatos dos primeiro ocidentais que atracaram na Polinésia Francesa provam que havia a pratica do Paipo (espécie de bodyboard) e do surf própriamente dito, nas ilhas havaianas. Vamos nos aprofundar melhor na história e técnicas de surf destes lugares, mas quero destacar um fato que alguns acreditam ser o elo entre o surf dos pescadores do peruanos os polinésios. 


Canoas polinésias
O norueguês Thor Heyerdahl elaborou a teoria de que alguns deuses nativos encontrados no Taiti e outras ilhas polinésias eram muito semelhantes ao Deus Tiki, cultuado por ancestrais que viviam na costa do Peru. Supõe-se que os nativos da América do Sul migraram por milhares de quilômetros em direção a oeste misturando-se a outros povos que habitavam a vasta região das ilhas do Pacífico. Assim, muitos traços da cultura de povos peruanos são visíveis em algumas ilhas do arquipélago polinésio.
A teoria deste norueguês foi fortemente criticada, levando-o a organizar uma expedição com uma jangada igual a dos antigos peruanos e atravessar o oceano, provando ser possível a façanha.


Tela de Paul Gauguin pintada na Polinésia Francesa no século XIX

O sucesso da expedição Kon-Tiki se tornou um dos livros de aventura mais lidos na década de 50 e 60, além de provar que seria possível uma viajem transoceânica em uma jangada primitiva. Esta façanha trouxe novas possibilidades para a origem (ainda desconhecida) da avançada civilização encontrada em ilhas como Taiti e Havaí. A polêmica expedição de Thor Heyerdahl também traz um elo entre os surfistas das canoas de totora do Peru, com a prática do surf dos polinésios.


Nada disso prova que o surf dos peruanos influenciou os polinésios e havainos, pois estes últimos possuem técnicas de construção de pranchas, canoas e navegação muito sofisticadas e diferentes daquelas peruanas. Melhor é admitir que a prática do surf tem relação com nossa fascinação pelo mar e a ância por domar os seus fenômenos.