segunda-feira, 10 de março de 2014

A prancha de surf como extensão do corpo

Texto Madeira & Água Publicado em: Surfari
 
Existem certas paixões entre humanos e objetos. Eu mesmo já tive fortes sentimentos por algumas pranchas de surf, por exemplo. Isto pode parecer bizarro em um primeiro momento, mas acontece o tempo todo, uma cumplicidade entre as pess
oa e suas coisas. Uma famosa cientista ganhadora de Premio Nobel escreveu um livro chamado Elogio a Imperfeição, que talvez explique certas feições e curvas que fazem as pranchas de surf me parecerem vivas e muitas vezes, sensuais.




A bióloga Rita Levi-Montalcini trouxe um olhar poético aos nossos defeitos, alegando justamente que as limitações humanas possibilitaram tamanha evolução. Por exemplo, nosso faro animal ruim fez com que aprendêssemos a andar sobre os pés para enchergar melhor, e com as mãos livres construímos objetos, o arco e flecha para compensar o fato de não voar, embarcações por não nadarmos tão bem como os peixes, e por aí vai. Nossa relação com estes objetos passa a ser muito íntima, uma autêntica extenção do corpo. 


Esta teoria sobre as tecnologias não é minha. Para André Leroi Gourham, os nossos objetos e ferramentas são incorporados aos membros, na busca incessante de solucionar às imperfeições do corpo. E não por menos, as pranchas de surf tomam feições meio humanas, meio peixe, meio tecnológicas. Para nós, tão vulneráveis nadando sobre o oceano, fracos diante das ondas, em cima de uma prancha de surfe domamos o fenômeno com arte e beleza.

 Pensando assim, não é tão estranho nos sentirmos atraídos por tecnologias como estas, simples, belas e divertidas. As pranchas de surf são uma extenção dos membros e como o corpo humano, cheias de curvas e personalidade. Depois de bons momentos de prazer dentro do mar, como não se apaixonar por estes objetos...