Outro dia, entrando no mar com minha prancha, quieto, voltando de uma onda ouço aquele papo entre um grupo de locais; "quem remar na mesma onda que eu vai sair talhado pela minha quilha". O recado era destinado para mim, que tive prioridade na ultima onda. Isto me levou a pensar sobre os limites do localismo...
Nada justifica nos nossos dias qualquer atitude covarde de localismo no mar, onde um grupo tenta obter vantagens com ameaças e violência. Mas esta história é muito antiga no esporte.
Lendo livros sobre a cultura havaiana me deparo com imagens diferentes daquela que imaginamos de um paraíso do Pacifico. Isto porque o surf era uma atividade de lazer, mas ia muito além, dependendo da ocasião poderia ser um momento de exibicionismo entre amigos, ou flerte entre homens e mulheres, poderia ser uma brincadeira alegre e divertida, um jogo em que duas ou mais pessoas disputavam a mesma onda e o vencedor finalizava a onda sem ser engolido pelo quebra-coco. Em outros momentos no entanto, refletia a violência e agressividade das guerras que aconteciam no arquipélago.
O sistema social havaiano era rígido, com regras, rituais, disputas e guerras. O interessante é perceber como o surf possuía uma relação íntima com a política, a religião e outros aspectos cotidianos da vida. Por exemplo, haviam diversas tribos espalhadas pelas ilhas, cada qual com seus chefes, considerados os parentes mais próximos dos deuses e donos legítimos do território, como senhores feudais. Neste contexto, os spots de onda podiam ser disputados como parte do território, e eram defendidos com todo afinco. Isto porque, grandes chefes dominavam outras ilhas e guerreavam por novos domínios e estes aspectos eram reproduzidos no mar.
Quando um forasteiro chegava para surfar ondas alheias, mesmo havendo uma boa relação entre as tribos, devia usar de toda diplomacia e respeito. Caso não fossem seguidas as regras e rituais, e o forasteiro ou os locais agissem com violência ou falta de respeito, aquilo podia dar início a uma guerra sangrenta.
Voltando hoje ao localismo, não vejo muita diferença do que acontecia, exceto pelo fato que não vivermos mais em tribos. Ou pensando bem, nem isso nos diferencia.
A regra de respeito e diplomacia ainda permanecem e são essenciais. Dito e anotado isto, de resto, sinceramente, acredito que as ondas não tem dono, ou se tem, pertencem a vida marinha e não às pessoas.Fora isto, toda guerra, dentro do mar ou na areia é pura perda de tempo, ainda mais quando o swell apresenta condições tão boas como daquele dia...
Nada justifica nos nossos dias qualquer atitude covarde de localismo no mar, onde um grupo tenta obter vantagens com ameaças e violência. Mas esta história é muito antiga no esporte.
Lendo livros sobre a cultura havaiana me deparo com imagens diferentes daquela que imaginamos de um paraíso do Pacifico. Isto porque o surf era uma atividade de lazer, mas ia muito além, dependendo da ocasião poderia ser um momento de exibicionismo entre amigos, ou flerte entre homens e mulheres, poderia ser uma brincadeira alegre e divertida, um jogo em que duas ou mais pessoas disputavam a mesma onda e o vencedor finalizava a onda sem ser engolido pelo quebra-coco. Em outros momentos no entanto, refletia a violência e agressividade das guerras que aconteciam no arquipélago.
O sistema social havaiano era rígido, com regras, rituais, disputas e guerras. O interessante é perceber como o surf possuía uma relação íntima com a política, a religião e outros aspectos cotidianos da vida. Por exemplo, haviam diversas tribos espalhadas pelas ilhas, cada qual com seus chefes, considerados os parentes mais próximos dos deuses e donos legítimos do território, como senhores feudais. Neste contexto, os spots de onda podiam ser disputados como parte do território, e eram defendidos com todo afinco. Isto porque, grandes chefes dominavam outras ilhas e guerreavam por novos domínios e estes aspectos eram reproduzidos no mar.
Quando um forasteiro chegava para surfar ondas alheias, mesmo havendo uma boa relação entre as tribos, devia usar de toda diplomacia e respeito. Caso não fossem seguidas as regras e rituais, e o forasteiro ou os locais agissem com violência ou falta de respeito, aquilo podia dar início a uma guerra sangrenta.
Voltando hoje ao localismo, não vejo muita diferença do que acontecia, exceto pelo fato que não vivermos mais em tribos. Ou pensando bem, nem isso nos diferencia.
A regra de respeito e diplomacia ainda permanecem e são essenciais. Dito e anotado isto, de resto, sinceramente, acredito que as ondas não tem dono, ou se tem, pertencem a vida marinha e não às pessoas.Fora isto, toda guerra, dentro do mar ou na areia é pura perda de tempo, ainda mais quando o swell apresenta condições tão boas como daquele dia...